Éimpossível, a solidão.

3 06 2008

Esta noite não fico recluso, pois mesmo os homens solitários, certas noites se sentem sozinhos. E consideram essencial a tolice de fazer-se entender por outro, um outro qualquer mesmo. Coisa que em toda vã, talvez os levem a crer que não se encontram reclusos à crua e humana solidão.

Quando a lua surge, caminho na sua trilha de luz e penumbra rumo ao encontro de qualquer um que me atenda o telefone. E antes que o destino se faça, consterno-me no rápido e banal encontro de passagem com um conhecido distante. Nome. Nem se quer me lembra o nome e eu que lhe descreveria toda a vida, mas os olhos que me cruzam, os pés que param seguidos de cumprimentos, consternam-me.

Certamente existo.

Mas eu precisava mais que de um pretexto, de algo mais para haver entendimento. E isto, isto é impossível. E somente com isto, posso voltar ao meu silêncio – sem trilha de lua e penumbra.

Ligo para alguém e o pulsar quase hipnótico do celular me arremete à dúvida da necessidade de olhos outros em confronto aos meus de origem solitária. A contradição não só reforça como é fundamental. É no contra-espelho da diferença onde se nasce e se renasce, porém se “é” e se morre sozinho. Nesta noite de luz-penumbra, ora em trilha, ora encruzilhada, a solidão é impossível, a solidão é necessária.

O telefone chama, como eu chamo a qualquer um. E falaria, e escreveria aos mil contatos destas ligações, sem que me entendessem. Afinal, as palavras estão sempre atrasadas à evolução do corpo que as produz. As palavras são um rastro à penumbra dos sentidos como a lua que, mesmo com os postes todos acessos, não cessa a escuridão da trilha.

Mantenho o pulso periódico do celular ao ouvido, mas torço que, quem quer que seja, não me atenda. A solidão é impossível bem como o entendimento, mas num ascendente silêncio, o importante é continuar caminhando.


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6 responses

8 06 2008
Jamie Barteldes

Enfim, Felipe Camilo faz para si um blog e assim adentra no maravilhoso mundo dos blogueiros, que escrevem sobre seus dias, sobre seus pensamentos, suas impressões no mundo. Irônico ou não, escolheu o tema “solidão”, exatamente quando começa a fazer parte da provavelmente mais fraterna parte da internet, exatamente quando será lido e comentado, quando seu texto deixará de ser só, ou só um arquivo do pc.

“Afinal, as palavras estão sempre atrasadas à evolução do corpo que as produz. ”
Bonita a frase, a palavra é tardia, o pensamento á mais veloz. Mas ao mesmo tempo, ela torna real aquilo que só existia na imaginação, nas idéias.

Seja bem-vindo à blogosfera. Aguardarei ansiosamente mais posts.

(ps: ter um blog é obrigar-se á uma rotina de visita a outros blogs, hein? portanto, já leu meu blog hoje?)

Beijos.
J

8 06 2008
camilokardozo

a ironia é um tempero essencial, dear.

agora: maravilhoso mundo dos blogueiros! é muita putaria mesmo. e nessas oras que acho pesar no título do texto: oh deus, é impossivel, a solidão!?

9 06 2008
Plita

O telefone chamar e vc esperar que ninguém atenda é algo como um “Ei, olha pra mim! Mas não me pergunte o que eu naõ sei responder. Especialmente se for sobre mim mesmo”.

A solidão é também comunhão. Comunhão não usual com coisas não usuais. Você percebe, se concentrar a atenção na própria solidão, que está em contato com coisas de fora e de dentro de você que geralmente passam desapercebidas.

e são coisas tão suas, e tão nuas, que falar sobre elas pra alguém seria profaná-las, ao mesmo tempo que vc anseia por dividi-las com alguém, por ser ouvido.

a solidão é algo infantil, mas quando somos crianças e estamos perto de outras crianças desconhecidas, podemos pegar uma delas pela mão e brincar sem constrangimento. Simpatize com aquele rapaz no ônibus e experimente pegar na mão dele e dizer: “Tô me sentindo um tanto sozinho hoje. Pode brincar de soltar pipa comigo lá na minha rua”?

9 06 2008
roger

Olha eu aqui também. Zoiando e te dando o “bem vindo, amigo!”
Posta muito pra eu poder comentar muito.
Gde Abraço!

9 06 2008
camilokardozo

Plita, com o perdão da infâmia, espero que seu carinha do onibus não seja o tigrao ahuahuahuhaua.

Mas sim, a solidão é paradoxal. Você precisa do outro para saber que você “é” e “existe” e, logo em seguida para saber que está ou se sentir sozinho. Mesmo nossas formas ideais de solidão, boas ou ruins, já são partilhadas antes mesmo de praticá-las.

11 06 2008
Georgia

Passando para deixar um “oi” e um “seja bem vindo ” ao mundo virtual. Escreva muito e divirta-se.

Abraços!

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